Documentário: The Battle of Chernobyl (Chernobyl Uncensored) - inglês, 2006


Mais informações ténicas no IMDB.

O mistério dos corpos de mais de 2 mil anos achados em pântanos da Dinamarca

Brejo perto de Aarhus, na DinamarcaImage copyrightALAMY
Image captionCientistas suspeitam que brejos dinamarqueses eram locais de depósito de sacrifícios humanos para divindidades da Idade do Ferro
A linha férrea entre a alemã Hamburgo e Copenhague, capital da Dinamarca, tem uma paisagem repleta de brejos. E a exemplo do que vem acontecendo em outras localidades do norte europeu, da Irlanda à Polônia, esses pântanos têm se revelado misteriosas tumbas.
Corpos de 2 mil anos de idade vêm sendo descobertos, e muitos arqueólogos acreditam que se tratam de vítimas de sacrifícios religiosos da Idade do Ferro (período iniciado em 1.200 a.C. em regiões da Ásia e da Europa), mortas e delicadamente depositadas nos pântanos como uma oferenda aos deuses.
Outros acadêmicos, porém, especulam que podem ser criminosos, imigrantes ou viajantes.
A Dinamarca tem uma das maiores concentrações de brejos - e de corpos encontrados - do mundo. Boa parte está perfeitamente preservada por causa de ácidos produzidos pelo musgo que é tão presente nesse ecossistema.
Muitos corpos foram acidentalmente descobertos por coletores de turfa, substância gerada pela decomposição de vegetais de áreas alagadas que os dinamarqueses ainda usavam como combustível entre 1800 e 1960.
Autópsias modernas revelaram que quase todas as vítimas - homens ou mulheres - sofreram mortes violentas. Algumas tinham marcas de forca ou cordas ao redor dos pescoços. Outras, as gargantas cortadas.
Homem de TollundImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionO Homem de Tollund foi enforcado e depositado na lama há 2.400 anos, mas de tão preservado apresenta até vestígios de barba
Pouco se sabe sobre a Dinamarca na Idade do Ferro, já que, por exemplo, não havia uma língua escrita local e poucos documentos escritos por gregos e romanos sobreviveram. Podemos apenas especular sobre o que aconteceu.
Mas há um detalhe importante: nessa época, a maioria das pessoas era cremada. Sendo assim, por que os chamados "corpos do pântano" tiveram um destino diferente? Foi o que quis descobrir.

Choque

Minha primeira parada foi Vejle, uma cidade de 100 mil habitantes a 240 km de Copenhague.
Lá, encontrei Mads Ravn arqueólogo-chefe do Vejle Museum, que tem uma fascinante coleção de artefatos, incluindo moedas romanas e broches com a suástica, símbolo que existiu milhares de anos antes dos nazistas.
Todos encontrados em pântanos e considerados oferendas a deuses, possivelmente da Idade do Ferro.
Em um sarcófago de vidro disposto em um salão escuro nos fundos do museu está o corpo da Mulher Haraldskaer, que tem uma expressão de choque em sua face.
Seu rosto não era tão pacífico como o de outros "corpos do pântano" que tinha visto em livros. Era algo estranho, que me fez sentir que estava invadindo sua privacidade.
Floresta dinamarquesaImage copyrightALAMY
Image captionCondições ácidas em solo e água dos brejos dinamarqueses podem preservar corpos por séculos
"Quando ela foi descoberta por extrativistas, em 1835, pensaram que era a rainha viking Gunhildd, que, de acordo com lendas nórdicas, teria sido afogada pelo marido, Harald Bluetooth", explica Ravn.
"Mas isso não é verdade, pois testes de carbono mostraram que ela tem cerca 2,2 mil anos de idade".
A Mulher Haraldskaer foi encontrada nua, ao lado de um manto, e tinha sido presa ao fundo por galhos de árvores possivelmente depois de morta.
Sulcos em seu pescoço sugerem estrangulamento, e análises forenses adicionais revelaram o conteúdo de seu estômago na hora da morte, incluindo milho-painço e amoras - uma refeição estranha em uma sociedade orientada para o consumo de carne.
"Estamos fazendo análises de isótopos em seu cabelo e trabalhando com uma nova técnica de DNA que extrai material de seu ouvido interno para descobrirmos mais sobre ela", conta o arqueólogo.

Mágico e sobrenatural

Ravn e eu dirigimos 10 km para o oeste até o Pântano Haraldskaer, onde a mulher foi descoberta.
Assim como os pântanos que vi do trem, estava coberto por algas verdes brilhantes e cercado por uma camada densa de árvores com cogumelos roxos. Há algo mágico e até sobrenatural, e é fácil ver o porquê de terem sido escolhidos como locais de sacrifício, e porque ainda exercem magnetismo nos dias de hoje.
A próxima parada era Aarhus, a segunda maior cidade dinamarquesa, para visitar o Moesgaard Museum, que abriga uma das melhores coleções sobre a Idade do Ferro na Europa.
A estrela da companhia aqui é o Homem de Grabaulle. Encontrado em 1952, esse corpo extremamente bem preservado encontra-se em posição deitada, pés e pele praticamente intactos, bem como a face, que tem uma expressão serena.
Homem de GrauballeImage copyrightROBERT HARDING/ALAMY STOCK PHOTO
Image captionO Homem de Grauballe é a principal atração do Moesgaard Museum
"Assim como a maioria dos corpos encontrados em pântanos, seu cabelo e pele ficaram avermelhados por causa de um processo químico conhecido como reação de Maillard", explica Pauline Asingh, diretora de exibições do museu. "Ele é realmente um homem bonito."
Mas o olhar tranquilo do Homem de Grabaulle contrasta com a evidência de seu fim violento.
"Ele foi forçado a se ajoelhar, e sua garganta foi cortada de orelha a orelha por alguém de pé por trás dele. Mas ele foi colocado com delicadeza no pântano. Pode parecer violento para nós, mas sacrifícios eram uma parte importante da vida cultural desse período", diz Asingh.
O museu também tem em seu acervo evidências de que os sacrifícios não eram limitados a humanos: em 2015, 13 cães do ano 250 a.C. foram encontrados no Pântano de Skodstrup, perto de Aarhus.
A parada final foi Silkeborg, a 44km a oeste de Aarhus. Lá, o Museum Silkeborg exibe "corpos do pântano" e um deles é considerado um dos mais bem-preservados espécimes do mundo.
O Homem de Tollund, de cerca de 2,4 mil anos de idade, está tão bem conservado que autoridades dinamarquesas pensaram que ele era um menino desaparecido quando foi encontrado, em 1950.
Homem de TollundImage copyrightROBERT HARDING/ALAMY STOCK PHOTO
Image captionExpressões faciais do Homem de Tollund impressionam
Assim como outras vítimas, ele foi enforcado. A corda que ajudou a matá-lo ainda estava enrolada em torno de seu pescoço, e seu rosto estava perfeitamente intacto.
Na sala ao lado estava a Mulher de Elling, achada a apenas 40 metros do Homem de Tollund e que deve ter morrido na mesma época. Também se acredita que ela tenha sido enforcada, e é uma atração popular por causa de seu cabelo vermelho, amarrado em uma longa trança de 90 cm de comprimento, com um elaborado nó.
Ole Nielsen, o arqueólogo do museu, me levou para visitar Bjaeldskovdal, um pântano 15 km distante de onde os corpos foram encontrados.
Ao pararmos para observá-lo, pensei em quais outros segredos suas profundezas turbas poderiam esconder.
Fonte: BBC

O arquivo soterrado em mina de sal que pretende salvar conhecimento humano do apocalipse


Mina de sal em Hallstatt é impressionanteImage copyrightALAMY
Image captionA mina de sal em Hallstatt existe desde o tempo dos celtas e pode abrigar nossos segredos milênios por vir

Gravadas com estranhos pictogramas, linhas e marcas em forma de cunha, elas ficaram enterradas no deserto do Iraque por milênios. Deixadas pelos sumérios há cerca de 5 mil anos, as tábuas de argila dão uma ideia do que acredita-se ser o registro escrito mais antigo de um povo que desapareceu há muito tempo.
Embora tenha demorado décadas para que arqueólogos conseguissem decifrar o misterioso idioma preservado nas placas, elas deram uma amostra de como era a vida na aurora da civilização.
Tábuas semelhantes e pedras esculpidas também foram desenterradas em locais habitados por outras importantes civilizações que há tempos desapareceram - desde os hieróglifos dos antigos egípcios até às inscrições dos maias da Mesoamérica.
As histórias e detalhes que elas continham resistiram ao teste do tempo, sobrevivendo durante milênios para serem desenterradas e decifradas por historiadores modernos. No entanto, há temores de que futuros arqueólogos não tenham acesso ao mesmo tipo de registro imutável quando eles buscarem por vestígios da nossa civilização.
Atualmente vivemos em um mundo digital no qual a informação é armazenada em listas de pequenos registros com uns e zeros eletrônicos que podem ser editados ou até apagados por simples toques acidentais em um teclado.
"Infelizmente nós vivemos em uma época que vai deixar poucos registros escritos", explicou Martin Kunze, idealizador do projeto Memória da Humanidade, ou MOM (Memory of Mankind, no original em inglês).

Aurora boreal; relatório destacou que fortes tempestades solares têm acontecido a cada 100 anosImage copyrightALAMY
Image captionO vento vindo do Sol pode criar a bela aurora boreal, mas uma tempestade solar feroz poderia apagar todos nossos dados armazenados

O MOM é uma colaboração entre acadêmicos, universidades, jornais e bibliotecas cujo objetivo é criar uma versão moderna das tábuas deixadas pelos sumérios.
O plano deles é reunir o conhecimento acumulado de nossa era e guardá-lo debaixo da terra nas cavernas de uma das minas de sal mais antigas do mundo, nas montanhas da região de Salzkammergut, na Áustria.
"O principal objetivo do que estamos fazendo é armazenar a informação de uma maneira que seja legível no futuro. É um 'backup' do nosso conhecimento, da nossa história", disse Kunze.
Criar uma "cápsula do tempo" pode parecer arcaico em uma era na qual a maior parte do nosso conhecimento flutua na nuvem da internet. No entanto, um deslize para uma era escura tecnológica não é algo que pode ser ignorado.

Perigo virtual

O advento da internet fez com que seres humanos tivessem, ao alcance de seus dedos, mais acesso à informação do que em qualquer outro período da história. Entretanto, os enormes repositórios de conhecimento que construímos são perigosamente vulneráveis.
Cada vez mais as informações vêm sendo armazenadas digitalmente ou remotamente em servidores ou discos rígidos.
A situação fica mais séria quando levamos em consideração que alguns artigos científicos hoje são publicados apenas online. Catálogos completos de imagens de telejornais, programas de TV e filmes são armazenados digitalmente. Documentos oficiais e legislações governamentais ficam em bibliotecas digitais.
Todavia, uma conferência de cientistas especializados no tempo do espaço sideral, junto com funcionários da agência espacial americana Nasa e do governo dos Estados Unidos, alertou para a natureza frágil da informação digital.
Partículas carregadas descartadas pelo Sol durante uma poderosa tempestade solar poderiam desencadear surtos eletromagnéticos com o potencial de tornar nossos dispositivos eletrônicos inúteis, além de apagar todos os dados armazenados em cartões de memória.
Tempestades assim são uma ameaça real, e elas acontecem com relativa frequência. Um relatório publicado pelo governo britânico no ano passado destacou que fortes tempestades solares têm acontecido a cada 100 anos.

Erupção solarImage copyrightNASA
Image captionAs tempestades solares liberam grande quantidade de partículas que se espalham pelo Sistema Solar, atingindo até planetas mais distantes, como Plutão

A última grande tempestade do tipo a atingir a Terra, conhecida como o Evento Carrington, foi em 1859 - acredita-se que esta foi a maior tempestade em 500 anos. Ela acabou com sistemas de telégrafo no mundo todo e produziu faíscas em torres elétricas.
Na era da internet, um evento como esse poderia ser catastrófico.
Mas há outras ameaças também - hackers ou funcionários descuidados que poderiam adulterar esses registros digitais ou apagá-los de uma só vez.
Também há a possibilidade de nós perdermos o acesso a essas informações. A tecnologia tem mudado de maneira tão rápida que formatos de mídia têm se tornado obsoletos cada vez mais rápido. Minidiscs, VHS e o antigo disquete tornaram-se antiquados dentro de décadas.
Daí surge o desejo de guardar uma cópia impressa dos nossos documentos mais importantes. Infelizmente, até as maneiras mais tradicionais de armazenar dados dificilmente são capazes de manter a informação segura por mais de alguns séculos.
Enquanto temos alguns manuscritos que sobreviveram centenas de anos - e no caso de papiros, milhares de anos -, a menos que eles sejam guardados em condições adequadas, a maioria se desintegra e vira pó depois de algumas centenas de anos. Jornais podem se decompor em até seis semanas se forem molhados.
"É bem provável que no longo prazo os únicos traços das nossas atividades hoje sejam o aquecimento global, o lixo nuclear e latinhas de Red Bull", disse Kunze. "A quantidade de dados está sendo inflada rapidamente, então o real desafio é selecionar o que queremos guardar para nossos netos e para aqueles que vierem depois deles."
Esse é o motivo pelo qual Kunze e seus colegas buscaram inspiração nas tábuas de pedra deixadas pelos sumérios.

Arquivo permanente

A equipe do MOM tem como meta criar um arquivo permanente do nosso modo de vida ao gravar, em placas quadradas de cerâmica com 20 centímetros de diâmetro, documentos oficiais, detalhes da nossa cultura, artigos científicos, biografias, livros populares, novas histórias e até mesmo imagens.
Isso é possível por meio de um processo descrito por Kunze como "microfilme de cerâmica", o qual ele diz ser o sistema de armazenamento de dados com maior duração do mundo.
As placas planas de cerâmica são cobertas por uma camada escura e um laser é usado para fazer inscrições nelas.
Cada uma dessas placas tem espaço para 5 milhões de caracteres - algo semelhante a um livro de 400 páginas.

Minidiscs, VHS e o antigo disquete tornaram-se antiquados dentro de décadasImage copyrightALAMY
Image captionAo contrário de tábuas de pedra, a tecnologia torna-se obsoleta rápido demais

Elas são resistentes a ácidos e alcalinos, e podem suportar temperaturas de 1300°C. Um segundo tipo de placa também pode ter fotos coloridas e diagramas impressos com 50 mil caracteres. Após a gravação de dados, elas são seladas com um esmalte transparente.
As placas são então empilhadas dentro de caixas de cerâmica e guardadas dentro das escuras cavernas da mina de sal em Hallstatt, na Áustria.
O lugar, que poderia ser descrito como o local de repouso da cápsula do tempo definitiva, é impressionante. Com a luz certa, as paredes ainda reluzem com os restos de sal, que ajuda a extrair a umidade e secar o ar.
O sal tem uma propriedade semelhante à plasticina que ajuda a selar fraturas e rachaduras, tornando a tumba à prova d'água. Enterrados sob milhões de toneladas de pedra, os registros poderão sobreviver por milênios e até mesmo por idades do gelo, segundo Kunze.

Valor inestimado

Em algum futuro distante depois que a nossa civilização tiver desaparecido, esses registros poderiam ter valor inestimado para quem os encontrasse.
Eles poderiam dar a culturas menos avançadas que a nossa o acesso a conhecimentos esquecidos, ou ser uma rica fonte de informação histórica para civilizações mais avançadas, garantindo que nossas conquistas, e nossos erros, possam ser estudados.
Mas esses registros também podem ter valor no curto prazo.
"Nós estamos tentando criar algo que não será apenas uma coleção de informações para um futuro distante, mas algo que também será um presente para nossos netos", afirmou Kunze.
"O MOM pode servir como um 'back-up' do conhecimento no caso de eventos como guerras, pandemias ou um meteorito que nos faça retroceder séculos dentro de duas ou três gerações. Uma sociedade pode perder habilidades e conhecimento rapidamente - no século 6, a Europa perdeu, em sua maioria, a capacidade de ler e escrever dentro de três gerações."

Conteúdo das placas

Os arquivos do MOM já têm uma amostra eclética do que é a nossa sociedade. Entre as informações gravadas nas placas de cerâmica estão livros resumindo a história de países ao redor do mundo.
Cidades e vilarejos também pediram para ter suas histórias locais incluídas. Mil dos livros mais importantes do mundo - escolhidos com a ajuda de um algoritmo da Universidade de Viena - também serão impressos nas tábuas.
Museus estão incluindo imagens de objetos preciosos de suas coleções que são acompanhadas de descrições do que aprendemos com esses itens.

Placas de cerâmica guardam amostra eclética da nossa sociedadeImage copyrightMEMORY OF MANKIND
Image captionAs placas são empilhadas em caixas de cerâmica que guardam nosso conhecimento em pedra para futuras gerações descobrirem

Também há placas com fotos de fósseis - dinossauros, peixes pré-históricos e ammonites (gênero de moluscos cefalópodes) - acompanhadas de descrições do que sabemos sobre eles.
Muito do material incluído nas placas está em alemão, mas há também placas em inglês, francês e outros idiomas.
Um punhado de celebridades também foi imortalizado nas criptas de sal. O ator e cantor David Hasselhoff, mais conhecido pelo seu trabalho no seriado de televisão Baywatch, conta com um registro longo, assim como a cantora alemã Nena, que ficou famosa com o hit dos anos 80 99 Red Balloons.
Junto com eles, há também uma placa detalhando a história de Edward Snowden e o vazamento de informações secretas da Agência de Segurança Nacional (NSA, na sigla em inglês), dos EUA.
A Universidade de Viena também tem colocado dissertações de doutorado premiadas e artigos científicos nas placas.
Nesse arquivo também estão placas que descrevem modificação genética e patentes de bioengenharia, explicando as descobertas feitas por cientistas modernos e como eles chegaram a essas conclusões.
Junto das pesquisas científicas, objetos do nosso dia a dia como máquinas de lavar, telefones celulares e aparelhos de televisão também estão sendo representados como um registro de como é a vida nos dias de hoje.
As placas também servem como um alerta e apontam locais onde resíduos nucleares foram despejados para que futuras gerações possam evitá-los ou limpá-los caso tenham desenvolvido a tecnologia necessária.
Jornais foram convidados a enviar editoriais diários para que um repositório de opiniões, assim como fatos, seja preservado.
De muitas maneiras, o problema real é o que não incluir. "Nós provavelmente temos 0.1% da literatura antiga, mas no mundo moderno publicar algo é tão fácil como postar algo na internet ou no Twitter", explicou Kunze.
"Publicações sobre ciência, voos espaciais e medicina - coisas nas quais realmente investimos - acabam perdidas em meio à massa de dados que produzimos. O Grande Colisor de Hádrons produz algo como 30 Petabytes de dados por ano, mas isso é igual a apenas 0.003% do tráfico anual da internet. Um fragmento aleatório de 0,1% dos nossos dados do presente dariam uma visão bem distorcida do nosso tempo."
Para resolver este problema, Kunze e seus colegas estão organizando uma conferência em novembro do ano que vem para reunir cientistas, historiadores, arqueólogos, linguistas e filósofos para criar um processo de como selecionar o conteúdo para o projeto.
A equipe também espera deixar imortalizado vestígios do cotidiano e incentiva membros do público a criar suas próprias placas.
"Estamos gravando receitas de cozinha, histórias de amor e acontecimentos pessoais", disse Kunze. "Em uma das placas uma menina incluiu três fotografias de sua primeira comunhão e escreveu um pequeno texto sobre isso. Elas dão ideias da vida diária que serão bastante valiosas."

Tuítes preservados

O MOM não é o único projeto que encara a difícil tarefa de preservar o conhecimento acumulado da humanidade. Bibliotecários ao redor do mundo também estão tentando lidar com o complicado problema de como salvar a informação da idade moderna.
A Universidade da Califórnia Los Angeles, por exemplo, está arquivando tuítes relacionados a grandes eventos e preservando-os em seus arquivos.
"Estamos selecionando tuítes do Cairo no dia da revolução de 25 de janeiro, por exemplo", explicou Todd Grappone, bibliotecário-associado da universidade.
"Nós estamos traduzindo-os para diversos idiomas e salvando-os em formatos que devem continuar sendo acessíveis no futuro. Estamos fazendo isso apenas digitalmente no momento, já que temos cerca de 1 mil vídeos feitos com telefones celulares apenas desse evento, mas o valor disso é enorme."
Outro projeto, chamado de Projeto Humano de Documentação (Human Document Project, em inglês), tem como objetivo gravar informação em pastilhas de tungstênio e nitreto de silício.
Inicialmente, eles estavam gravando essas pastilhas com dezenas de pequenos códigos de QR - um tipo de código de barra bidimensional - que podem ser lidos usando smartphones. Agora, eles dizem que os discos finais levarão informações escritas de uma maneira que podem ser lidas utilizando um microscópio.

MOM gravou pequenas fichas com um mapa localizando onde arquivos estãoImage copyrightMEMORY OF MANKIND
Image captionPequenas fichas, espalhadas pelo mundo, guiarão futuras gerações até o arquivo subterrâneo que guarda nosso conhecimento

Leon Abelmann, pesquisador da Universidade Twente em Enschede, na Holanda, é um dos idealizadores do projeto. Segundo ele, a meta é produzir algo que conseguirá sobreviver por um milhão de anos. Agora eles estão começando a colaborar com o MOM.
"Nós ficaríamos muito felizes se encontrássemos informações deixadas por uma forma de inteligência que foi extinta há milhões de anos", disse ele.
"Então acreditamos que seres inteligentes do futuro também ficarão felizes. O simples fato de que precisamos ter uma visão afastada de nós mesmos pode fazer, espero eu, com que percebamos que as diferenças entre nós são triviais."

Localização

Enterrar essas placas debaixo de uma montanha, porém, pode fazer com que seja improvável que gerações futuras consigam encontrá-las. Por isso, o MOM gravou pequenas fichas com um mapa localizando onde os arquivos estão.
Essas fichas estão sendo distribuídas para todos os participantes do projeto para que, assim, eles possam enterrá-las em locais estratégicos ou passá-las para as próximas gerações.
Para garantir que a pessoa que encontre as placas consiga, de fato, ler o que está gravado nelas, a equipe do MOM tem criado sua própria versão da Pedra de Roseta, que foi fundamental para a compreensão moderna dos hieróglifos egípcios, com milhares de imagens etiquetadas com seus nomes e significados.
Todo este esforço demonstra o tamanho da pretensão do que o grupo deseja realizar. Os indivíduos que encontrarem essa mina de ouro de conhecimento podem ser bem diferentes de nós.
Em alguns milhares de anos a civilização pode ter avançado para além de nossas previsões ou pode ter retrocedido para uma era das trevas. Talvez nem sejam humanos os descobridores de nossas memórias. "Poderia ser uma outra forma de vida inteligente", disse Kunze.
Nós nunca saberemos o que os arqueólogos do futuro pensarão da nossa civilização quando eles tirarem o pó dessas placas daqui milhares de anos, mas podemos ter a esperança de que, assim como os sumérios, nós não seremos esquecidos.
Fonte: BBC

9 características de países que são superpotências educacionais


Alunos prestando uma provaImage copyrightPA
Image captionExemplos como Cingapura e Japão têm várias características em comum tanto em seus sistemas atuais como em suas culturas e história.

Quando se fala em rankings globais de educação a história parece se repetir. As superpotências educacionais asiáticas ocupam os primeiros lugares e, para o resto do mundo, sobram dúvidas e recriminações.
Para os ministros da Educação de grande parte do mundo este deve ser um momento difícil, no qual eles precisam encontrar algum aspecto positivo para destacar e tentar explicar a razão de seus países estarem mais uma vez no meio ou até nas últimas colocações da lista.
Cingapura dominou os resultados do Programa de Avaliação Internacional de Alunos (Pisa, na sigla em inglês), divulgados no começo de dezembro, nas três áreas avaliadas, Matemática, Ciência e Leitura.
Cerca de 540 mil estudantes de 15 anos em 70 países participaram do exame, realizado a cada três anos pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
No ranking de Ciência, Cingapura foi seguida outra potência asiática da educação, Japão. Em terceiro, a Estônia. No de Leitura, o segundo e terceiros lugares ficaram com China (Hong Kong) e Canadá. E no de Matemática , Hong Kong e Macau (também China).
Mas o que estes países fizeram para chegar a este patamar? O que eles têm que outros países não têm?
Veja algumas das características destes vencedores.

1 - É melhor estar na Ásia Oriental


Alunos de CingapuraImage copyrightNTU
Image captionCingapura ficou em primeiro lugar nos três rankings do Pisa

Cingapura está em primeiro lugar, seguida pelo Japão. Outros daquela região estão entre os dez primeiros como Taiwan, Macau, Hong Kong, China, Vietnã. A Coreia do Sul está em 11º lugar.

2 - Um pouco de conformismo?

Falando de uma forma muito diplomática, a expectativa em muitos dos países que ocupam as primeiras posições geralmente é que as pessoam obedeçam as ordens que recebem.
Uma cultura conformista e concentrada, um senso de objetivo coletivo ou até um Estado onde exista apenas um partido, sem oposição, frequentemente são elementos que podem ser observados entre os países mais bem colocados.
Mas há exceções: a Finlândia ficou em quinto lugar e este é um país com um sentimento forte de independência liberal.

3 - Melhor não ter recursos naturais

Existe um fenômeno em educação chamado "a maldição dos recursos" que mostra que as economias cuja base são os recursos naturais - como as que dependem em grandes reservas de petróleo - têm uma tendência a performances ruins no setor de educação.

Recursos naturaisImage copyrightTHINKSTOCK
Image captionA "maldição dos recursos", um fenômeno que mostra que as economias cuja base são os recursos naturais têm performance pior na educação

Países do Oriente Médio podem ser citados como exemplo. Como motivar uma pessoa que espera ser rica independente de seus resultados na escola?
Os países pequenos e com poucos recursos, por outro lado, precisaram aprender rapidamente como viver e progredir a partir de sua própria inteligência. Por exemplo, há 60 anos a Coreia do Sul tinha um dos piores índices de analfabetismo do mundo, agora muitos de nós estamos assistindo programas em aparelhos de televisão criados ou fabricados naquele país.

4 - Aposte nos professores

Andreas Schleicher, guru educacional da OCDE, tem uma frase: "Nenhum sistema de educação pode ser melhor do que a qualidade de seus professores".
E a classificação no Pisa demonstra isso: o sucesso está unido à oferta de professores de boa qualidade.
Não importa quais as declarações polêmicas dos ministro de Educação, tudo se resume em um bom investimento nos professores.

5 - Ser uma nação (relativamente) jovem

Os países mais bem colocados em rankings educacionais podem ter culturas antigas, mas uma característica interessante deles é que muitos são Estados relativamente novos ou tiveram suas fronteiras reconstituídas recentemente.
A Finlândia vai celebrar seu centenário em 2017 e a Coreia do Sul e Cingapura, em suas atuais formas políticas, são produtos do século 20.

Alunos vietnamitasImage copyrightTHINKSTOCK
Image captionSer uma nação relativamente nova, como o Vietnã, pode ajudar nos resultados educacionais

O Vietnã, que saiu de uma guerra na década de 1970 foi um dos que melhoraram mais rapidamente seu sistema educacional, ultrapassando os Estados Unidos e os dinossauros da velha Europa.

6 - Ter um vizinho grande que brilhe mais que você

Outra característica surpreendente dos países mais bem posicionados em rankings de educação é o quanto eles tiveram que lutar para conseguir um lugar ao sol por causa de um vizinho muito maior.
As histórias de sucesso em países europeus nos últimos anos - na Finlândia, Polônia e Estônia - mostra que eles tiveram que sair da sombra do antigo bloco soviético.
A Coreia do Sul e Hong Kong têm como vizinha a China. Cingapura é uma cidade-estado minúscula cercada por vizinhos bem maiores em tamanho e população.
A educação é que permite a todos estes países competirem com os países maiores.

7 - Não é uma competição por eliminação

As classificações em rankings de educação se baseiam na proporção de jovens que conseguem alcançar algum ponto de referência de capacidade
Os ganhadores serão aqueles países que presumem que todos devem cruzar esta linha de chegada, alcançar este padrão, até os mais pobres - e esta é uma característica que marca os mais bem-sucedidos sistemas educacionais da Ásia.
Eles colocam os melhores professores cuidando dos alunos mais fracos para garantir que todos alcancem o padrão básico.
O sistema ocidental, por sua vez, aborda a educação como uma corrida de cavalos, com a expectativa de que poucos dos que começam a corrida alcancem a meta.
E as classificações refletem esta diferença fundamental.

8 - Copiar dos melhores

É difícil separar os sistemas educacionais da política e da cultura onde eles se desenvolvem.
Por mais que todos gostem de falar de "inovação", há muita pressão de todos os lados contra a mudança.

Pikachus em filaImage copyrightGETTY IMAGES
Image captionPa[ises em que culturas s'ao consideradas mais conformistas parecem ter vantagens nas avaliações

Mas muitos dos países com alto rendimento não tem nenhum problema em pegar as melhores ideias de outros países e usá-las em suas próprias escolas.

9 - Planejar para o longo prazo em um mundo onde tudo é no curto prazo

Dez anos ou até mais podem passar antes que as mudanças em um sistema educacional façam alguma diferença positiva a ponto de mudar o lugar do país em rankings globais do setor.
E isto não é um grande incentivo para a curta vida útil de um gabinete de ministro da Educação.
Em alguns países os ministros podem ser trocados várias vezes até em uma questão de dias.
A grande mensagem que os países precisam entender a partir destes rankings globais de educação é que os dois fatores necessários são coerência e continuidade.

10 - Culpe todo mundo

É preciso muito tempo para mudar a educação de um país e para notar estas mudanças.
Então os ministros desta pasta podem se vangloriar de qualquer coisa que tenha sucesso e culpar todos os da administração anterior pelos fracassos.
Fonte: BBC