[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] “Sr. Holmes” traz uma história envolvente

Autor Mitch Cullins destaca um Sherlok Holmes diferente / Foto: Divulgação

Filho de sir Arthur Conan Doyle que caiu na vida, Sherlock Holmes é, há muito tempo, um personagem sem dono - faz e diz o que vários escritores diferentes lhe ordenam. Uma das encarnações mais recentes desse Sherlock desgarrado é “Sr. Holmes”, do inglês Mitch Cullins.

Este é um Sherlock Holmes diferente. Aos 93 anos, com saúde frágil, enfrenta o que parecem ser sintomas de uma degeneração neurológica. Esquece das coisas do dia a dia, confunde imaginação e realidade. Só as memórias mais antigas ainda surgem claras em sua mente.

Estamos em 1947. O protagonista de “Sr. Holmes” vive aposentado em uma propriedade rural na Inglaterra. Mas não é um interior inglês de aristocracia, opulência, morada de poderosos como, por exemplo, aquele de “Vestígios do Dia”, de Kazuo Ishiguro.

O cenário da aposentadoria de Holmes é uma chácara simples, com uma única funcionária. Ele se ocupa não mais de crimes misteriosos, mas da criação de abelhas. 

O enredo encontra o velho Sherlock Holmes em sua propriedade, poucos dias depois de voltar de uma viagem ao Japão, atendendo ao convite de um suposto apicultor de lá. Além de cuidar das abelhas, o velho se ocupa de remexer antigas anotações.

A estrutura do romance difere das histórias escritas por Conan Doyle (1859-1930). Naquelas, o narrador é quase, sem exceção, o assistente Watson. Aqui, não - Watson está morto.

A história de “Sr. Holmes” se desdobra em três tempos. Um deles, com narrador onisciente, trata do presente do Sherlock retirado, apicultor. O segundo, o da viagem ao Japão, da qual Holmes acaba de regressar, tem o mesmo narrador. E o terceiro é contado pelo próprio detetive, o das notas do começo de carreira, em que Holmes mistura observações técnicas com relatos de sua atração pela suposta mulher infiel.

Essa estrutura poderia derrapar em um exercício pretensioso de mudanças de vozes e de saltos temporais. Daqueles que, longe de mãos habilidosas de um Faulkner ou um Calvino, só servem para entediar e desorientar gratuitamente o leitor.

Não é o caso. As três histórias se sobrepõem com fluidez. E quando a narrativa salta de um tempo a outro, as interrupções servem como ganchos para cada um dos três mistérios: a mulher traía mesmo o marido? Quem era o estranho anfitrião de Holmes no Japão? E quem causou a morte na chácara de Sherlock?

Não se pode dizer que “Sr. Holmes” decepcione, pelo contrário. É uma história envolvente, que não por acaso virou filme.

[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] Clássicos da literatura em versão quadrinhos são reunidos na coleção Cânone Gráfico

Em 2014, a editora Boitempo editou o primeiro e, agora, põe no mercado brasileiro o segundo livro da coleção


Imagens extraídas do Cânone: quadrinhos vivem um momento exitoso no Brasil. Editora Boitempo/Divulgação


Adaptar clássicos da literatura para outra linguagem é, desde sempre, uma constante no teatro e no cinema. Nas últimas décadas, tornou-se prática comum no universo dos quadrinhos ou, como alguns preferem, das novelas gráficas. A proliferação de artistas reconhecidos e de bons títulos tornou viável um projeto ambicioso do escritor norte-americano Russ Kick. Ele garimpou releituras já publicadas e encomendou novas HQs a mais de 130 desenhistas para lançar, em três volumes, o projeto Cânone gráfico, cujas 1600 páginas trazem versões de 190 clássicos literários. Em 2014, a Boitempo editou o primeiro e, agora, põe no mercado brasileiro o segundo livro da coleção.

A publicação coincide com um bom momento na produção nacional, a julgar pela qualidade de obras comoGrande sertão: veredas (Biblioteca Azul, R$ 199,90), ilustrada por Rodrigo Rosa e roteirizada por Eloar Guazzelli. O trabalho foi reconhecido como melhor adaptação para quadrinhos no prêmio HQ Mix e ficou em segundo lugar no Jabuti deste ano. Expoente do gênero, com adaptações de William Faulkner, E.E. Cummings e Eça de Queiroz no currículo, o quadrinista divulga a releitura de Vidas secas (Galera Record, R$ 49), ilustrada por ele a pedido do neto de Graciliano Ramos.

Para o roteirista, ilustrador e artista plástico, passamos por um momento especial nos quadrinhos brasileiros. “Há anos, o fato de as HQs entrarem nas compras governamentais fez surgir uma quantidade enorme de adaptações que são muito boas. Quando surgiu a demanda, não foi preciso formar ninguém. Os autores estavam prontos”, avalia Guazzelli.

Em Pernambuco, nomes como João Lin, Miguel e Laerte Silvino, cartunista do Diario, estão entre os artistas dispostos a recorrer aos clássicos para atualizar as narrativas em linguagem gráfica. Salvo exceções, como as encomendas, a escolha dos títulos a serem ilustrados está relacionada às preferências literárias dos artistas. “Machado de Assis é meu brasileiro preferido, então foi natural a opção por adaptar Conto de escola. Já I-Juca Pirama foi um livro cuja narrativa achei bacana, além de ser história com índios, de que gosto”, diz Silvino. 

Gigantes

Cânone reúne adaptações de obras relevantes do século 19:

Orgulho e preconceito, de Jane Austen
Frankenstein, de Mary Shelley
Oliver Twist, de Charles Dickens
Moby Dick, de Herman Melville
Folhas da relva, de Walt Whitman
Os miseráveis, de Victor Hugo
As aventuras de Huckleberry Finn, de Mark Twain
O corvo, de Edgar Allan Poe
O morro dos ventos uivantes, de Emily Brontë
Anna Kariênina, de Liev Tolstói
O retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde
Crime e castigo, de Fiódor Dostoiévski.
Assim falou Zaratrusta, de Friedrich Nietzsche
Alice no país das maravilhas, de Lewis Carroll

[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] Clássicos literários adaptados para HQ ganham espaço no mercado editorial

Renata Farhat Borges, pesquisadora de quadrinhos e diretora editorial da Peirópolis, fala sobre a evolução do mercado e a coleção que já publicou 14 adaptações para quadrinhos

O lançamento de Cânone Gráfico – Clássicos da Literatura Universal em Quadrinhos, livro do americano Russ Kick que inaugura o Barricada, selo de HQ da Boitempo, foi assunto da matéria de capa do Caderno 2 do domingo, dia 9, assinada por Ubiratan Brasil.

Como esse tipo de adaptação tem sido frequente no mercado editorial brasileiro – especialmente pela possibilidade de venda para escolas -, conversei com alguns editores sobre o tema e a matéria também foi publicada no domingo.

Publico a seguir a entrevista que fiz com Renata Farhat Borges, pesquisadora de quadrinhos e diretora editorial da Peirópolis, cuja coleção de clássicos adaptados já conta com 14 volumes. Parte dela foi usada no texto orginal.
Caeto adaptou 'A Morte de Ivan Ilitch', de Tolstoi
Caeto adaptou ‘A Morte de Ivan Ilitch’, de Tolstoi

Por que adaptar uma obra literária para quadrinhos?

Para conquistar outros leitores para esta obra, para abrir seu sentido para a contemporaneidade, para oferecer leituras renovadas sobre mitos, personagens ou enredos que se tornaram clássicos e sobre os quais as atuais gerações jamais se debruçaram – porque não conhecem, porque nunca foram estimuladas a isso, porque não encontraram o caminho mais aprazível. Esse tipo de publicação nasceu nos Estados Unidos na década de 40 e até o final da década de 60 era tão popular ali quanto a boneca Barbie ou os cards. A coleção original era seriada e se chamava Classics Illustrated. Foi traduzida para mais de 26 idiomas em 36 países. O Brasil importou esta coleção por Adolfo Aizen, da Ebal – Editora Brasil América, que publicou por aqui mais de 200 títulos, sendo que muitos deles eram criações originais, quadrinizações de obras brasileiras, especialmente do Romantismo, especialmente José de Alencar, mas também autores como Bernardo Guimarães, Manuel Antônio de Almeida, Camilo castelo Branco, Dinah Silveira, entre outros. Mas as motivações foram um pouco diferentes no século 20 e no século 21. No século 20, além das razões que continuam atuais, como popularizar obras clássicos, oferecer aperitivos de leitura, a literatura em quadrinhos buscava emprestar algum prestígio para a linguagem dos quadrinhos, jovem e na época vítima de muitas críticas por parte de pais e educadores em todo o mundo.

Como é o interesse do leitor brasileiro por esse tipo de livro?

A coleção brasileira no século 20 foi muito popular no Brasil entre as décadas de 40 e 60. O ressurgimento que atestamos hoje se iniciou a partir de 2006, quando os editais de compra de governo, por diferentes motivos, dentre os mais importantes a ampliação do conceito de letramento iniciada com a LDB e os PCNs, passaram a nomear as quadrinizações nas demandas das bibliotecas. Ainda restrito nas vendas no varejo, este tipo de publicação tem tido neste século mais penetração em escolas e universidades. No entanto, as redes de livrarias já dedicam espaço às adaptações literárias na área de quadrinhos, como você pode verificar na imagem anexa, provavelmente para atender demandas que se iniciam no ambiente da escola. Esse cenário é bem diferente do que ocorria no século XX, quando as quadrinizações eram vendidas em bancas de jornais e compradas espontaneamente pelo leitor jovem.

E do Governo? Por que acha que esse tipo de livro entra nos programas de compra?

O Governo em suas diferentes instâncias entende as adaptações literárias como instrumentos interessantes de formação do leitor literário e porta de entrada para a leitura de grandes obras da literatura universal. Além disso, vem cada vez mais valorizando esse tipo de publicação por seu resultado estético final – ou seja, valoriza a adaptação de Caco Galhardo para Dom Quixote porque, além de oferecer ao leitor uma aproximação do jovem leitor com o universo do clássico de Cervantes, é muito bom como história em quadrinhos também.

Você já teve algum título selecionado? Se sim, quando foi isso e quantos exemplares foram vendidos?

Já tivemos três títulos selecionados: Dom Quixote em Quadrinhos, de Caco Galhardo, Os Lusíadas em Quadrinhos, de Fido Nesti, e Frankenstein em Quadrinhos, de Taisa Borges. Foram vendidos para governos, em média, tiragens de 20 mil, 30 mil.

Há demanda escolar?

Além das demandas dos editais de compra de governo em suas instâncias federal e estadual, muitas escolas particulares adotam quadrinizações de obras clássicas com sucesso. A coleção Clássicos em HQ, que hoje tem 14 títulos, tem vendido muito bem as quadrinizações de Os Lusíadas, por Fido Nesti, e Dom Quixote, volumes 1 e 2, por Caco Galhardo, além de Auto da Barca do Inferno, por Laudo Ferreira, Conto de Escola, por Laerte Silvino, dentre outros.

Por que não há muitas obras brasileiras adaptadas para HQ?

Das cerca de 400 quadrinizações literárias já publicadas no Brasil, mais da metade delas foi no século 20, quando a Ebal traduziu muitas quadrinizações feitas pelaClassics Illustrated – obras anglo-saxônicas, em sua maioria. Já naquela época, escolhiam-se muitas obras do século 19 porque o editor Albert Kanter tinha especial apreço pela literatura daquela época e porque as obras já estavam em domínio público. A partir de 2006, os editores brasileiros estão arriscando, e há coleções, como a da Peirópolis, que tem como premissa que as quadrinizações sejam feitas por artistas brasileiros, mas não restringe a obras brasileiras, e coleções especialmente dedicadas a obras brasileiras, como a da Ática. Das 14 quadrinizações da Coleção Clássicos em HQ, metade delas são de obras em língua portuguesa, de Portugal, como Auto da Barca do Inferno, de Gil Vicente, ou Os Lusíadas, e do Brasil, como Conto de Escola e A Mão e a Luva, de Machado de Assis, I-Juca Pirama, de Gonçalves Dias, ou Demônios, de Aluísio Azevedo.
'A Mão e a Luva', de Machado de Assis, por Alex Genaro e Alex Mir
‘A Mão e a Luva’, de Machado de Assis, por Alex Genaro e Alex Mir

E por que há mais títulos clássicos do que contemporâneos adaptados?

Por várias razões: a primeira, na minha opinião, é que a motivação, o desejo de reabrir o sentido, reinterpretar uma obra ou oferecer uma nova leitura sobre um enredo passa por uma questão de distanciamento no tempo. A obra clássica normalmente não é clássica no seu tempo, mas torna-se clássica a partir do olhar das gerações posteriores e do consenso das forças que atuam no campo literário. A outra, também importante na história editorial das quadrinizações, é que essas obras estão em domínio público e portanto não é necessário negociar direitos autorais com autor vivo ou seus herdeiros, e muito menos negociar os sentidos da releitura proposta pelos quadrinhos. Eu mesma já tentei quadrinizar obras de autores brasileiros que não estão em domínio público e quebrei a cara. Porque os herdeiros não compreendem e acatam a autoria do quadrinista na adaptação.

Entre os títulos da coleção, quais foram os mais vendidos? E quantos exemplares foram comercializados?

Os títulos mais vendidos da coleção são Dom Quixote em Quadrinhos, Os Lusíadas em Quadrinhos, Frankenstein em Quadrinhos e, recentemente, Divina Comédia em Quadrinhos, Conto de Escola em Quadrinhos, A Morte de Ivan Ilitch em Quadrinhos. Ao todo, a coleção já vendeu cerca de 200 mil exemplares.

Quais serão os próximos lançamentos da editora nessa linha?

Fausto em Quadrinhos e Os Sofrimento do Jovem Werther em Quadrinhos. O primeiro, por Leonardo Santana e Rom Freire, e o segundo, por Daniel Gisé. Ambas quadrinizações são de clássicos da literatura germânica, de Goethe, e demonstram a variabilidade do gênero dos quadrinhos e as infinitas possibilidades e recursos da linguagem para lidar com roteiros clássicos.

[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] Ex-operário, tradutor conclui trabalho com os 'cinco elefantes' de Dostoiévski

Fiódor Dostoiévski (1821-1881) estava morto havia 80 anos quando Paulo Bezerra, paraibano de Pedra Lavrada, o encontrou pela primeira vez.

Na época, o nordestino radicado em São Paulo, então um militante de 21 anos do PCB (Partido Comunista Brasileiro), só tinha lido um livro na vida, "A Lã e a Neve", do português Ferreira de Castro. Por sugestão de uma amiga do Partidão, resolveu, em 1961, encarar "Crime e Castigo" na tradução das edições francesa e espanhola feita por Rosário Fusco e publicada pela José Olympio.

Fabio Teixeira/Folhapress
Paulo Bezerra em seu apartamento no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro

"Entendi muito pouco, mas fiquei fascinado com a história de Raskólnikov e o clima do romance", lembra.

Cinco anos depois, Bezerra imaginou, pela primeira vez, verter "Crime e Castigo" para o português direto do russo. Era um aluno de tradução da Universidade Estatal de Moscou, quando encontrou a mesma edição da José Olympio numa biblioteca. Aproveitou para cotejar com o original russo a versão de Rosário Fusco.

"Foi impressionante: era como se autores diferentes contassem a mesma história, cada um a seu modo", diz.

Trinta e cinco anos depois do vislumbre foi lançada pela editora 34 a tradução de Bezerra para o clássico de 1866 –a primeira versão direta do russo publicada no Brasil.

Ali começou a saga de verter diretamente da língua original os "cinco elefantes de Dostoiévski", apelido dado aos romances da maturidade do escritor no documentário "Die Frau mit den 5 Elefanten" (a mulher com os 5 elefantes), sobre a história de Svetlana Geier, que, como Bezerra, traduziu do original os cinco grandes romances, só que para o alemão.

Além de "Crime e Castigo", integram a lista "O Idiota" (1869), "Os Demônios" (1872), "O Adolescente" (1875) e "Os Irmãos Karamázov" (1881).

A saga de Bezerra chegou ao fim neste ano, uma década e meia depois, com o lançamento da tradução de "O Adolescente" para a editora 34.

"Meu pai era ferreiro; minha mãe, costureira –logo, não podiam custear meus estudos", lembra o tradutor de 75 anos que, aos 10, garimpava minério no Seridó da Paraíba. Também trabalhou em farmácias e no comércio, tentou –sem sucesso– se alistar na Marinha e ajudou um tio na construção de açudes.

Deixou o nordeste aos 18 em direção a Atibaia (SP). Após dois meses trabalhando numa granja, rumou para a capital e, depois, Guarulhos (SP), onde morou com o irmão, soldador e mecânico de uma fábrica e militante sindical.

No começo 1960, seguiu os passos do mais velho. Virou operário. Foi quando começou a se envolver com o movimento sindical e, por fim, se filiou ao PCB. Pela filiação, acabava demitido de todas as fábricas. Chegou a ser preso em 1962, durante uma greve. Foi liberado horas depois, mas não conseguia mais emprego.

No ano seguinte, aceitou o convite do PCB de fazer um curso de formação política em Moscou. Deixou o Brasil com um manual de russo, onde aprendeu o alfabeto cirílico e nada mais. "Eu só falava o português, minha formação regular era o curso primário e o curso de desenho mecânico."

OITO ANOS

Veio o golpe militar de 1964. Bezerra, comunista fichado pela polícia, não tinha como retornar. A estada, que deveria durar seis meses, se estendeu por oito anos. Nesse período, ele ingressou na universidade e trabalhou na Rádio Paz e Progresso, dedicada a questões políticas. Também conheceu Ênio Silveira, fundador da editora Civilização Brasileira.

"A ditadura assustava qualquer um, sobretudo quem trabalhava com jornalismo na União Soviética e estava bem informado do que acontecia por aqui", conta. Por orientação do PCB, retornou ao Brasil pelo Uruguai. "O clima era sinistro, sentia-se o perigo no ar." Como fora preso em São Paulo, decidiu se fixar no Rio. Era uma forma de precaução.

De volta ao país natal, Bezerra fez letras na Universidade Gama Filho e se tornou mestre e doutor pela PUC-Rio e livre-docente em literatura russa pela USP. Também reencontrou Silveira. Dessa primeira visita ao Brasil, em 1971, saiu com "Fundamentos Lógicos da Ciência", de Pavel Kopnin, para traduzir.

"Foi meu primeiro contrato de tradução", diz. Hoje, tem no currículo 33 obras traduzidas ao português, o que o torna um dos grandes tradutores de russo do Brasil, país até o século 20 acostumado a tradução de traduções do espanhol, do francês e do inglês.

Para Bezerra, "parafraseando Platão, o tradutor de texto indireto é um imitador de terceira categoria". Ele diz que o texto perde as peculiaridades das falas das personagens dostoievskianas, tornando-as claras e elegantes. Algo oposto a Dostoiévski, que "é rude, áspero, deselegante quando a forma o requer; logo, estilizá-lo e torná-lo palatável às chamadas regras do bem escrever significa trair uma peculiaridade essencial de seu estilo".

Aspereza que toma tempo: Bezerra leva, em média, dois anos e meio para traduzir e revisar cada obra.

TRADUTOR COMENTA TRADUÇÃO DOS CINCO ROMANCES

"Crime e Castigo"
Publicação: 2001
Sinopse: Dostoiévski narra a história do estudante miserável que assassina uma idosa e não consegue se livrar do peso do remorso.
Nota do tradutor: "O principal é encontrar a linguagem específica de Raskólnikov, manter o padrão de aproximação e distanciamento ao longo do romance."

"O Idiota"
Publicação: 2002
Sinopse: O príncipe Míchkin é um indivíduo virtuoso que, inadaptado, passa por "idiota" numa sociedade corrompida.
Nota do tradutor: "A grande dificuldade foi traduzir o prenúncio da epilepsia de Dostoiévski, em que os pensamentos eram desestruturados."

"O Adolescente"
Publicação: 2015
Sinopse: Romance de formação, com um jovem de 20 anos que busca ser aceito na sociedade russa no começo do capitalismo.
Nota do tradutor: "Dos cinco livros, este foi o mais leve de traduzir, pois se trata de um romance praticamente sem a tragédia dos demais."

"Os Demônios"
Publicação: 2003
Sinopse: O autor cria uma ficção a partir de um episódio verídico: o assassinato de um estudante por um grupo niilista.
Nota do tradutor: "Este romance tem uma dinâmica de crônica, diferente da das demais. O narrador está dentro da narrativa -não participa, mas vê."

"Os Irmãos Karamázov"
Publicação: 2008
Sinopse: O último livro de Dostoiévski trata da conturbada relação entre Fiódor Karamázov e seus três filhos.
Nota do tradutor: "Foi um dos mais difíceis de traduzir. A mulher do capitão Sneguirióv tem problema de cabeça e sua linguagem é embaralhada, descontínua."


[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] Ku Klux Klan ressurge nos EUA no ano de seu 150º aniversário

"Tentam destruir a Klan desde seu nascimento, em 1865. Mas 150 anos depois continuamos aqui." Quem fala assim é James Moore, ou "Kludd Imperial", título equivalente ao de capelão, dos Cavaleiros Brancos Leais da KKK, enquanto se dirige aos presentes a um encontro da Ku Klux Klan na zona rural do Alabama, nos EUA.

Pouco depois, Moore diz que a mais conhecida organização supremacista branca do mundo conseguiu 20 novos membros durante aquele evento.
BBC
Grupo de simpatizantes da KKK se reúne no Alabama, no sul dos EUA
Grupo de simpatizantes da KKK se reúne no Alabama, no sul dos EUA

A cena, registrada no documentário da BBC "KKK: a luta pela supremacia branca", se deu quando ainda faltavam alguns meses para o 150º aniversário da organização, fundada em 24 de dezembro de 1865.

Meio século e meio depois de seu nascimento, a Ku Klux Klan parece estar recuperando certo protagonismo.

A organização está longe dos números que alcançou na década de 1920, mas diz estar recrutando cada vez mais integrantes para a "guerra de raças" que, 150 anos depois da Guerra de Secessão, parece estar em curso nos EUA.

A "ameaça islâmica", para a KKK exposta em ataques como o de San Bernardino, na Califórnia, no qual morreram 14 pessoas, e a chegada de imigrantes não brancos proporcionaram novos inimigos à organização, e, com eles, cada vez mais simpatizantes.

E muitos integrantes se sentem legitimados pelo discurso de políticos como o pré-candidato republicano à Presidência Donald Trump, que já defendeu a expulsão de todos os imigrantes latinos ilegais do país e a proibição da entrada de qualquer muçulmano.

Mas o que é a KKK, e até que ponto se deve levar a sério essa organização e seus membros, que costumam queimar cruzes vestidos com capuzes brancos?

SUPREMACIA BRANCA

BBC
Grupo de simpatizantes da KKK se reúne no Alabama, no sul dos EUA
Grupo de simpatizantes da KKK se reúne no Alabama, no sul dos EUA

Historiadores apontam que a Ku Klux Klan foi fundada no Tennessee pouco depois da guerra civil americana, ou Guerra de Secessão (1861-1865), por um grupo de ex-soldados confederados (da região sul do país, derrotada no conflito). O nome foi inspirado na palavra grega para círculo: kuklos.

Originalmente concebida como um clube recreativo, a KKK rapidamente começou a atuar de forma violenta para intimidar populações negras do sul dos EUA e garantir a supremacia dos moradores de raça branca.

E, segundo a organização de direitos civis SPLC (South Poverty Law Center), houve elementos que deram mística ao grupo e contribuíram para sua popularidade: "títulos ridículos" (a autoridade máxima da KKK recebe, por exemplo, o nome de "mago imperial"), roupas com capuzes, ações noturnas violentas e a ideia de que o grupo era parte de um "império invisível".

Depois de um curto e violento período, a organização considerada pela Liga Antidifamação como "o primeiro grupo terrorista dos EUA" se desfez como resultado da pressão do governo federal, mas teve seus objetivos garantidos pela manutenção de leis segregacionistas no sul do país.

Na década de 1920, contudo, a crescente imigração católica e judia e a popularidade do filme "O Nascimento de uma Nação", de 1915, em que a KKK aparece como "mocinho" da história, contribuíram para o renascimento do grupo.

Ainda segundo a SPLC, quando a KKK organizou uma enorme marcha em Washington em 1925, o grupo tinha quatro milhões de membros e forte influência na política de Estados do sul dos EUA.

"Uma série de escândalos sexuais, disputas internas por poder e investigações jornalísticas rapidamente reduziram sua influência", afirma a SPLC, fundada em 1971 para combater de forma legal as organizações supremacistas.

DIREITOS CIVIS

A luta por direitos civis na década de 1960 resultaria em um interesse renovado pela filosofia do grupo, como o nome da KKK, roupas, rituais e práticas sendo adotados por diferentes grupos. Logo houve um novo recuo, resultado de mais disputas internas, julgamentos e infiltrações por parte de agências de governo.

"Desde sua criação, a Ku Klux Klan passou por vários ciclos de crescimento e colapso, e em alguns desses ciclos a KKK foi mais radical que em outros", afirma a Liga Antidifamação, conhecida pela sigla em inglês ADL.

"Mas em todas as suas incarnações, ela manteve sua herança dupla de ódio e violência", diz a organização, que estima haver hoje cerca de 40 filiais da KKK nos EUA, com 5.000 membros

A SPLC calcula esse número entre 5.000 e 8.000, "divididos entre dezenas de organizações diferentes - e muitas vezes antagônicas - que usam o nome da Klan."

Segundo a entidade de direitos civis, enquanto algumas dessas expressões da KKK são abertamente racistas, outras "procuram esconder seu racismo sob o manto de 'direitos civis para brancos'".

A lista de inimigos da KKK também se ampliou pouco a pouco, para incluir não apenas negros, judeus e católicos (ainda que estes últimos tenham sido reconsiderados na década de 1970), mas também homossexuais e diferentes grupos de imigrantes, diz a ADL.

GUERRA RACIAL

"Os Estados Unidos nasceram como uma nação cristã e nossos valores cristãos estão sendo atacados", resume um membro da KKK, coberto pelo tradicional capuz branco, no documentário "KKK: A luta pela supremacia branca".

"Somos pessoas normais, viemos de todos os setores: um é professor de escola, outro trabalha em um hospital, há vários políticos", afirma James Moore, o "Kludd Imperial" dos Cavaleiros Brancos Leais.

"Nós, brancos, estamos infelizmente perdendo esta guerra, mas os brancos irão acordar. Uma pequena unidade militar pode derrotar os negros em questão de semanas, e a maior parte de nossa gente vem das Forças Armadas. Vamos retomar os EUA", afirma no documentário da BBC, transmitido pela primeira vez em outubro.

Em uma primeira análise, a ameaça pode parecer uma simples bravata amparada pela primeira emenda da Constituição americana, que garante a liberdade de expressão e acaba protegendo a KKK e seus membros - desde que não promovam violência.

Mas é fato que essa filosofia não deixa de ter consequências reais.

Para integrantes da KKK como Charles Murphy —"Grande Dragão" da KKK para a Carolina do Sul—, provocar essa "guerra de raças" foi o objetivo declarado do jovem Dylann Roof, que em junho matou nove pessoas em uma igreja frequentada por negros em Charleston.

Roof não tinha relação com a KKK, mas, segundo Murphy, "foi isso [provocar guerra racial] que ele disse que queria".

"Se [os negros] querem uma guerra de raças, que demos uma a eles antes que eu morra. Quero poder ver isso", acrescenta o integrante da KKK no documentário.

LEGITIMIDADE

Por esses e outros motivos, o presidente dos EUA, Barack Obama, afirmou após o ataque em Charleston que o país "ainda não se curou do racismo".

E mesmo que nenhum político americano endosse abertamente atos racistas ou a própria KKK, há quem veja com preocupação os rumos da atual pré-campanha presidencial no país.

O ex-líder da KKK David Duke, por exemplo, celebrou publicamente as propostas de Trump, e o descreveu como o melhor entre todos os pré-candidatos republicanos à Casa Branca.

Em entrevista publicada em 23 de dezembro em seu canal no YouTube, Duke - que se afastou da KKK em 1980, depois de uma tentativa frustrada de modernizar a organização - disse que Trump é até mais radical do que ele.

"Muitos grupos da KKK procuram se aproveitar do medo e da incerteza usando sentimentos xenofóbicos para fins de recrutamento e propaganda", alertou recentemente a Liga Antidifamação.

Para o fundador o site supremacista branco Stormfront, Don Black, o discurso incendiário de Trump está alcançando o mesmo objetivo.

Ele disse que seu site registra um aumento de audiência de até 40% toda vez que declarações racistas de Trump são destaque na mídia.

E esse fenômeno também se expressa entre membros da KKK e de outros grupos que promovem a supremacia branca.

"A desmoralização é o pior inimigo (dessas organizações), e Trump está mudando isso", disse Black, segundo o site Politico.

"Ele fez com que seja aceitável falar sobre as preocupações dos americanos de origem europeia", acrescentou.

"E certamente está criando um movimento que continuará independentemente de Trump, inclusive se ele recuar em algum momento", concluiu o supremacista, em declaração que soa como uma advertência.

[REPERCUSSÃO DE ARTIGO] Britain’s first female doctor

Elizabeth Garrett Anderson passed her medical exams on September 28th 1865.

Medical pioneer: Elizabeth Garrett Anderson, c.1888.

Elizabeth Garrett Anderson was described in her time as a woman of indomitable will who did not suffer fools gladly. Her father was a prosperous businessman in Aldeburgh in Suffolk, who believed that girls should have as good an education as boys and she was educated at home with some teenage years at a boarding school for girls.

When Elizabeth decided she wanted to be a doctor, her father was supportive but her mother was horrified. Most doctors and surgeons did not want a woman joining their ranks. Nor did medical colleges and her applications to teaching hospitals and universities were turned down. Sneaking in as a nurse at the Middlesex Hospital in London failed to work and she hit on becoming a licentiate of the Society of Apothecaries, which though less prestigious than an MD, or doctorate of medicine, would entitle her to be a practising physician. The Society shrank back in alarm, but her father threatened to sue it and she passed the exams in 1865. It then revised its rules to keep women out.

In 1866 Elizabeth opened the St Mary’s Dispensary for Women and Children in the Marylebone area of London, a hospital solely for women, staffed solely by women, which drew crowds of poor patients. In 1870 she obtained the University of Paris’s first ever MD degree for a woman and in 1872 her Marylebone dispensary became the New Hospital for Women. In 1871, aged 34, Elizabeth married James George Skelton Anderson, head of a large shipping firm, who supported her belief in independence for married women. The barriers were giving way and in 1874 she helped to found the London School of Medicine for Women, where she taught for years. 

Elizabeth also supported the suffragettes. In 1902 she and her husband retired to Aldeburgh, where she became mayor in 1908, the first woman mayor in Britain. When she died there in 1917 aged 81 her London hospital was renamed after her in her honour.

[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] How The Danish Girl captured the zeitgeist

Danish Girl
Eddie Redmayne first worked with director, Tom Hooper, aged 22 in Elizabeth I

Few movies capture the popular zeitgeist quite like King's Speech director Tom Hooper's The Danish Girl. It tells the story of the 1930s Danish artist Einar Wegener, played by Eddie Redmayne, who became one of the first people to undergo sex reassignment surgery, having decided to live life as a woman called Lili Elbe. The film also features Wegener's wife Gerda, played by Alicia Vikander.

The Danish Girl comes in a year that has put transgender issues firmly into the spotlight. From the transition of Bruce to Caitlyn Jenner, to the Emmy-winning success of Amazon's series Transparent, even the White House chose to screen The Danish Girl as part of a celebration of LGBT artists.

Ironic, then, that Hooper has said the script was passed around for about 12 years struggling to secure backing because of what was seen as the story's limited appeal.

"I hope it provides a message of hope," says the Oscar-winning Hooper, who has previously worked with Redmayne on Elizabeth I and Les Miserables.

"It's a message that transgender history matters. These were two extraordinary pioneers of the transgender movement who I think history had marginalised."

Facing criticism

Before locking the final cut of the film, he decided to screen the movie to one of Les Miserables' musical directors, who was in the process of transitioning while making the film.

"The lights came up and she had tears on her face, and she said the amazing words, 'How did you know?' She said it was in many respects very true to her own experience and that was for me the most exciting."

Tom Hooper, Alicia Vikander and Eddie Redmayne

Tom Hooper (left), Alicia Vikander and Eddie Redmayne have been attending photo calls and red carpet events for the film from Toronto to Copenhagen


Despite this sensitivity to the subject matter, Hooper has faced criticism for not choosing to cast a transgender woman in the title role. He defended the decision,telling Variety that access to trans actors is limited, and that he had always had Redmayne in mind.

"There was something in Eddie that was drawn to the feminine," he says. "He played the girls' parts in school plays. I was a bit like Gerda in the film because Gerda becomes fascinated by the femininity in her husband and starts to paint it. I was fascinated by the femininity in Eddie and wanted to explore it."

The film is as much about Gerda, and her demonstration of unconditional love and acceptance through an experience which is as much a transition for her as for her husband.

"I looked up to her," says Vikander.

"I questioned, would I be able to do what she did. It was an extraordinary experience trying to find that strength because she's never passive. Lili needs to be who she is but Gerda makes the decision to stand by her side. I'm a romantic at heart."

In fact, it is Gerda who suggests her husband dresses as a woman. She asks Wegener to first pose for a painting, but more significantly then suggests he attends a ball dressed as Lili, and she goes on to paint portraits of her husband as a woman.

"You helped bring Lili to life but she was always there," Lili later tells Gerda.

So did Gerda always know that her husband wanted to be a woman?

"She was able to see the inner self of the person she loved… When you know somebody really well, it's not a big surprise when something comes up to the surface," says Vikander.

Award nominations

Vikander's scene-stealing performance, which has been nominated for a Golden Globe and a Screen Actors Guild award, gives the film "tremendous heart", says Hooper.

"It's phenomenal. In her hands Gerda never feels like a victim, which I think is really interesting."

Danish Girl
Alicia Vikander (left) has picked up two Golden Globe nominations this year

It has been an extraordinary year for the Swede who came to the public's attention with roles in The Man from U.N.C.L.E., Testament of Youth, Burnt and Ex Machina, for which she has been nominated for another Golden Globe.

Her star is set to rise further when she acts alongside Matt Damon in the fifth Jason Bourne movie.

Redmayne is attracting an equal amount of attention, following his Screen Actors Guild and Golden Globe best actor nominations for his role.

The 33-year-old won the best actor award at this year's Oscars for his portrayal of Stephen Hawking in The Theory of Everything, another transformative role.

With the screenplay originating from 2004, The Danish Girl has been 11 years in the making, its subject matter proving it a difficult film for Hollywood's financiers to get behind.

But the critical recognition being given to Hooper, Vikander and Redmayne shows they are together a winning combination - and suggesting The Danish Girl was worth the wait.

The Danish Girl is due for release in UK cinemas on 1 January.

Fonte: BBC

[REPERCUSSÃO DE NOTÍCIA] Birmingham's ancient Koran history revealed


Media captionThe ancient Koran in Birmingham is giving up some its secrets


In terms of discoveries, it seemed as unlikely as it was remarkable.When the University of Birmingham revealed that it had fragments from one of the world's oldest Korans, it made headlines around the world.


But it raised even bigger questions about the origins of this ancient manuscript.

And there are now suggestions from the Middle East that the discovery could be even more spectacularly significant than had been initially realised.

There are claims that these could be fragments from the very first complete version of the Koran, commissioned by Abu Bakr, a companion of the Prophet Muhammad - and that it is "the most important discovery ever for the Muslim world".

This is a global jigsaw puzzle.

But some of the pieces have fallen into place.

It seems likely the fragments in Birmingham, at least 1,370 years old, were once held in Egypt's oldest mosque, the Mosque of Amr ibn al-As in Fustat.
Paris match

This is because academics are increasingly confident the Birmingham manuscript has an exact match in the National Library of France, the Bibliotheque Nationale de France.

Mosque of Amr ibn al-As in FustatImage copyrightThinkstock
Image captionThe Mosque of Amr ibn al-As in Egypt, where Birmingham's Koran seems to have orginated


The library points to the expertise of Francois Deroche, historian of the Koran and academic at the College de France, and he confirms the pages in Paris are part of the same Koran as Birmingham's.

Alba Fedeli, the researcher who first identified the manuscript in Birmingham, is also sure it is the same as the fragments in Paris.

The significance is that the origin of the manuscript in Paris is known to have been the Mosque of Amr ibn al-As in Fustat.

'Spirited away'

The French part of this manuscript was brought to Europe by Asselin de Cherville, who served as a vice consul in Egypt when the country was under the control of Napoleon's armies in the early 19th Century.

Prof Deroche says Asselin de Cherville's widow seemed to have tried to sell this and other ancient Islamic manuscripts to the British Library in the 1820s, but they ended up in the national library in Paris, where they have remained ever since.

Map of ancient Koran
Image caption1: In summer 2015 two leaves of an ancient Koran at the University of Birmingham were identified and dated as being much earlier than anyone had anticipated and among the oldest in the world. 2: The National Library of France, Paris has leaves from the same Koran, brought from Egypt by a vice consul under Napoleon. 3: The Mosque of Amr ibn al-As in Fustat, Egypt. The fragments of the Koran in Birmingham are believed to have come from this ancient mosque. 4: Alphonse Mingana was born near Zakho in modern-day Iraq in 1878. He brought the manuscript to Birmingham from the Middle East on a collecting trip in the 1920s funded by the Cadbury family.

But if some of this Koran went to Paris, what happened to the pages now in Birmingham?

Prof Deroche says later in the 19th Century manuscripts were transferred from the mosque in Fustat to the national library in Cairo.

Along the way, "some folios must have been spirited away" and entered the antiquities market.

These were presumably sold and re-sold, until in the 1920s they were acquired by Alphonse Mingana and brought to Birmingham.

Mingana was an Assyrian, from what is now modern-day Iraq, whose collecting trips to the Middle East were funded by the Cadbury family.

"Of course, no official traces of this episode were left, but it should explain how Mingana got some leaves from the Fustat trove," says Prof Deroche, who holds the legion of honour for his academic work.

And tantalisingly, he says other similar material, sold to western collectors could, still come to light.
Disputed date

But what remains much more contentious is the dating of the manuscript in Birmingham.

What was really startling about the Birmingham discovery was its early date, with radiocarbon testing putting it between 568 and 645.

The latest date in the range is 13 years after the death of the Prophet Muhammad in 632.
Napoleon in EgyptImage copyrightThinkstock
Image captionManuscripts were brought to France by Napoleon's forces in Egypt

David Thomas, Birmingham University's professor of Christianity and Islam, explained how much this puts the manuscript into the earliest years of Islam: "The person who actually wrote it could well have known the Prophet Muhammad."
But the early date contradicts the findings of academics who have based their analysis on the style of the text.
Mustafa Shah, from the Islamic studies department at the School of Oriental and African Studies in London, says the "graphical evidence", such as how the verses are separated and the grammatical marks, show this is from a later date.
In this early form of Arabic, writing styles developed and grammatical rules changed, and Dr Shah says the Birmingham manuscript is simply inconsistent with such an early date.
Prof Deroche also says he has "reservations" about radiocarbon dating and there have been cases where manuscripts with known dates have been tested and the results have been incorrect.

'Confident' dates are accurate

But staff at Oxford University's Radiocarbon Accelerator Unit, which dated the parchment, are convinced their findings are correct, no matter how inconvenient.
Researcher David Chivall says the accuracy of dating has improved in recent years, with a much more reliable approach to removing contamination from samples.

jamal bin huwaireb
Image captionJamal bin Huwaireb believes that this an even more remarkable find than has so far been realised


In the case of the Birmingham Koran, Mr Chivall says the latter half of the age range is more likely, but the overall range is accurate to a probability of 95%.

It is the same level of confidence given to the dating of the bones of Richard III, also tested at the Oxford laboratory.

"We're as confident as we can be that the dates are accurate."

And academic opinions can change. Dr Shah says until the 1990s the dominant academic view in the West was that there was no complete written version of the Koran until the 8th Century.

But researchers have since overturned this consensus, proving it "completely wrong" and providing more support for the traditional Muslim account of the history of the Koran.

The corresponding manuscript in Paris, which could help to settle the argument about dates, has not been radiocarbon tested.

The first Koran?

But if the dating of the Birmingham manuscript is correct what does it mean?

There are only two leaves in Birmingham, but Prof Thomas says the complete collection would have been about 200 separate leaves.

Ancient Koran in BirminghamImage copyrightPA
Image captionThe text of the Koran has remained unchanged since this very early version in Birmingham


"It would have been a monumental piece of work," he said.

And it raises questions about who would have commissioned the Koran and been able to mobilise the resources to produce it.

Jamal bin Huwareib, managing director of the Mohammed bin Rashid Al Maktoum Foundation, an education foundation set up by the ruler of the UAE, says the evidence points to an even more remarkable conclusion.

He believes the manuscript in Birmingham is part of the first comprehensive written version of the Koran assembled by Abu Bakr, the Muslim caliph who ruled between 632 and 634.

David Thomas
Image captionProf Thomas says the writer of this manuscript could have heard the Prophet Muhammad preach



"It's the most important discovery ever for the Muslim world," says Mr bin Huwareib, who has visited Birmingham to examine the manuscript.

"I believe this is the Koran of Abu Bakr."

He says the high quality of the hand writing and the parchment show this was a prestigious work created for someone important - and the radiocarbon dating shows it is from the earliest days of Islam.

"This version, this collection, this manuscript is the root of Islam, it's the root of the Koran," says Mr bin Huwareib.

"This will be a revolution in studying Islam."

This would be an unprecedented find. Prof Thomas says the dating fits this theory but "it's a very big leap indeed".

'Priceless manuscript'

There are other possibilities. The radiocarbon dating is based on the death of the animal whose skin was used for the parchment, not when the writing was completed, which means the manuscript could be a few years later than the age range ending in 645, with Prof Thomas suggesting possible dates of 650 to 655.

This would overlap with the production of copies of the Koran during the rule of the caliph Uthman, between 644 and 656, which were intended to produce an accurate, standardised version to be sent to Muslim communities.

If the Birmingham manuscript was a fragment of one of these copies it would also be a spectacular outcome.

It's not possible to definitively prove or disprove such theories.

But Joseph Lumbard, professor in the department of Arabic and translation studies at the American University of Sharjah, says if the early dating is correct then nothing should be ruled out.

"I would not discount that it could be a fragment from the codex collected by Zayd ibn Thabit under Abu Bakr.

"I would not discount that it could be a copy of the Uthmanic codex.

"I would not discount Deroche's argument either, he is such a leader in this field," says Prof Lumbard.

He also warns of evidence being cherry-picked to support experts' preferred views.

Prof Thomas says there could also have been copies made from copies and perhaps the Birmingham manuscript is from a copy made specially for the mosque in Fustat.

Jamal bin Huwaireb sees the discovery of such a "priceless manuscript" in the UK, rather than a Muslim country, as sending a message of mutual tolerance between religions.

"We need to respect each other, work together, we don't need conflict."

But don't expect any end to the arguments over this ancient document.

Fonte: BBC