Nova lei de incentivo ao mecenato e um site para pequenas doações são iniciativas para tentar salvar o incomparável patrimônio histórico e cultural do país, em meio à redução das verbas públicas.
Ruínas italianas de Pompeia são beneficiadas com novas formas de financiamento cultural |
Quinze anos atrás, com grande estardalhaço, a Domus Aurea de Roma – a suntuosa Casa Dourada do imperador Nero – foi aberta ao público após uma restauração parcial.
Depois de séculos escondida no subsolo, a estrutura fora descoberta no Renascimento, quando os principais artistas da época se esgueiraram por aberturas na terra e desceram com cordas até as vastas ruínas de afrescos para estudar as "grutas", acreditando que eram cavernas.
Inspirados pelo que descobriram no subsolo, os grandes mestres, incluindo Rafael, absorveram esse estilo ancestral em seus próprios trabalhos, enriquecendo a arte renascentista.
O acesso atual a esse amplo complexo artístico também tem se mostrado um desafio e, ao menos até aqui, bem menos frutífero. Dois anos após o palácio ser aberto, em 1999, autoridades fecharam suas portas novamente devido a dúvidas quanto à estabilidade estrutural do local. Em 2010, uma das galerias ruiu após uma forte chuva.
Depois de quatro anos de trabalho, o espaço está reestruturado e é aberto a um número limitado de visitantes nos fins de semana. Pequenos pedaços dos seus delicados afrescos foram libertos de camadas de sódio, poluição e microorganismos, dando apenas uma ideia dos esplendores encobertos.
O que falta para restaurar tudo? Meros 30 milhões de euros.
Novos modelos de financiamento
Diversos espaços culturais italianos enfrentam situações semelhantes. Enquanto o país tenta sair da má situação econômica, as verbas públicas para a restauração de patrimônios culturais minguam.
No entanto, alguns desenvolvimentos recentes na gestão de recursos culturais podem ser os primeiros sinais positivos de uma mudança profunda na maneira como os italianos encaram sua responsabilidade pelo próprio patrimônio.
Um exemplo é uma nova lei, Art Bonus, que busca encorajar tanto pessoas físicas quanto jurídicas a investir na restauração de patrimônios culturais, oferecendo um bônus fiscal que equivale a 65% do valor doado. A lei ainda dá um crédito fiscal de 30% a instituições turísticas que investem em restauração ou modernização.
Pontos turísticos famosos, como o Coliseu, as Escadarias da Praça da Espanha, a Fontana di Trevi e a Arena de Verona, conseguiram patrocínios privados na ordem de dezenas de milhões de euros. Mas a grande maioria dos museus e patrimônios reconhecidos pela Unesco não têm peso para atrair tanto dinheiro e necessitam de uma ajuda extra.
Os gastos com cultura na Itália somam 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média europeia é de 2,2%. Agora, porém, o governo italiano afirma que, a partir de 2016, pela primeira vez, a tendência de queda nos gastos com cultura vai ser revertida graças ao Art Bonus.
"Trazer a cultura do mecenato para cá vai levar tempo", afirmou o ministro da Cultura e Turismo, Dario Franceschini. "Mas os resultados do Art Bonus para a Itália são absolutamente positivos, até mesmo extraordinários, especialmente porque foram alcançado num estágio experimental, sem campanhas publicitárias."
"Assim como em outros países, eu gostaria que as grandes empresas fossem avaliadas por sua contribuição social, pelo que elas fazem para realçar e proteger nosso patrimônio cultural assim como a Unesco o descreve, como pertencendo a toda a humanidade e toda a humanidade contribuindo para sua manutenção", diz Franceschini.
Ele elogia iniciativas que surgiram após o Art Bonus, como o upaperlacultura.org, o primeiro site italiano privado e sem fins lucrativos que busca aproximar instituições culturais e empresas. Lançado por um grupo de 500 empresas de publicidade e comunicação, o site permite às empresas escolher uma instituição ou local para investir.
Crowdfunding para Pompeia
Uma iniciativa similar, mas que foca nos turistas estrangeiros, é o LoveItaly!, um sistema de crowdfunding para apoiar os patrimônios do país através do que os fundadores chamam de "uma série de projetos com gestão transparente para ajudar o futuro da Itália".
"Este país tem a mais extraordinária coleção de patrimônios culturais", afirma o presidente do LoveItaly! e reitor da American University of Rome, Richard Hodges. "Mas o governo italiano ainda não entendeu como isso é importante para a economia."
Hodges lembra que a Itália recebe apenas a metade do número de turistas da França e mais ou menos o mesmo número que o Reino Unido, só que com uma oferta muito maior oferta de espaços e atrações culturais.
"O aspecto mais interessante dessa iniciativa é que ela abre a possibilidade de recursos privados serem investidos em projetos que necessitam urgentemente de restauração e proteção, mas que não chamariam a atenção de outra forma, como neste caso: uma pequena, mas importante parte de Pompeia", diz Galeandro.
A plataforma aceita doações a partir de 2 euros, mas a fundadora do site, Tracy Roberts, afirma que tem esperança de conseguir ofertas mais generosas por meio de incentivos, algo que os italianos poderiam aprender com os americanos.
"Como em todo tipo de crowdfunding, você precisa de incentivos", explica Roberts. "Doadores de somas maiores, por exemplo, receberão convites para jantares luxuosos. Temos parcerias com hotéis. Conhecemos a Itália, seu território e seu povo e queremos que as pessoas sejam parte disso."
Fonte: Deutsche Welle (05.11.2015)
Inspirados pelo que descobriram no subsolo, os grandes mestres, incluindo Rafael, absorveram esse estilo ancestral em seus próprios trabalhos, enriquecendo a arte renascentista.
O acesso atual a esse amplo complexo artístico também tem se mostrado um desafio e, ao menos até aqui, bem menos frutífero. Dois anos após o palácio ser aberto, em 1999, autoridades fecharam suas portas novamente devido a dúvidas quanto à estabilidade estrutural do local. Em 2010, uma das galerias ruiu após uma forte chuva.
Depois de quatro anos de trabalho, o espaço está reestruturado e é aberto a um número limitado de visitantes nos fins de semana. Pequenos pedaços dos seus delicados afrescos foram libertos de camadas de sódio, poluição e microorganismos, dando apenas uma ideia dos esplendores encobertos.
O que falta para restaurar tudo? Meros 30 milhões de euros.
Fontana de Trevi é uma das principais atrações de Roma e não têm dificuldades para encontrar patrocinadores |
Diversos espaços culturais italianos enfrentam situações semelhantes. Enquanto o país tenta sair da má situação econômica, as verbas públicas para a restauração de patrimônios culturais minguam.
No entanto, alguns desenvolvimentos recentes na gestão de recursos culturais podem ser os primeiros sinais positivos de uma mudança profunda na maneira como os italianos encaram sua responsabilidade pelo próprio patrimônio.
Um exemplo é uma nova lei, Art Bonus, que busca encorajar tanto pessoas físicas quanto jurídicas a investir na restauração de patrimônios culturais, oferecendo um bônus fiscal que equivale a 65% do valor doado. A lei ainda dá um crédito fiscal de 30% a instituições turísticas que investem em restauração ou modernização.
Pontos turísticos famosos, como o Coliseu, as Escadarias da Praça da Espanha, a Fontana di Trevi e a Arena de Verona, conseguiram patrocínios privados na ordem de dezenas de milhões de euros. Mas a grande maioria dos museus e patrimônios reconhecidos pela Unesco não têm peso para atrair tanto dinheiro e necessitam de uma ajuda extra.
Os gastos com cultura na Itália somam 1,2% do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto a média europeia é de 2,2%. Agora, porém, o governo italiano afirma que, a partir de 2016, pela primeira vez, a tendência de queda nos gastos com cultura vai ser revertida graças ao Art Bonus.
"Trazer a cultura do mecenato para cá vai levar tempo", afirmou o ministro da Cultura e Turismo, Dario Franceschini. "Mas os resultados do Art Bonus para a Itália são absolutamente positivos, até mesmo extraordinários, especialmente porque foram alcançado num estágio experimental, sem campanhas publicitárias."
Ministro Franceschini: "Trazer a cultura do mecenato para cá vai levar tempo, mas primeiros resultados são positivos" |
Sem muito estardalhaço, 34 milhões de euros foram levantados apenas neste ano em doações – um aumento de 20% em relação a 2014 –, com mais da metade dos locais listados no programa sendo beneficiados.
Como os generosos incentivos serão tornados permanentes em novembro, Franceschini afirma que as grandes corporações italianas não terão mais desculpas para não apoiar."Assim como em outros países, eu gostaria que as grandes empresas fossem avaliadas por sua contribuição social, pelo que elas fazem para realçar e proteger nosso patrimônio cultural assim como a Unesco o descreve, como pertencendo a toda a humanidade e toda a humanidade contribuindo para sua manutenção", diz Franceschini.
Ele elogia iniciativas que surgiram após o Art Bonus, como o upaperlacultura.org, o primeiro site italiano privado e sem fins lucrativos que busca aproximar instituições culturais e empresas. Lançado por um grupo de 500 empresas de publicidade e comunicação, o site permite às empresas escolher uma instituição ou local para investir.
Crowdfunding para Pompeia
Uma iniciativa similar, mas que foca nos turistas estrangeiros, é o LoveItaly!, um sistema de crowdfunding para apoiar os patrimônios do país através do que os fundadores chamam de "uma série de projetos com gestão transparente para ajudar o futuro da Itália".
"Este país tem a mais extraordinária coleção de patrimônios culturais", afirma o presidente do LoveItaly! e reitor da American University of Rome, Richard Hodges. "Mas o governo italiano ainda não entendeu como isso é importante para a economia."
Hodges lembra que a Itália recebe apenas a metade do número de turistas da França e mais ou menos o mesmo número que o Reino Unido, só que com uma oferta muito maior oferta de espaços e atrações culturais.
Casa do Centauro, em Pompeia, é beneficiada pelo projeto LoveItaly! |
Por meio de um site de fácil navegação, o LoveItaly! começou a arrecadar fundos para a restauração de um pequeno sarcófago em Roma e para a Casa do Centauro, uma habitação pré-romana com os mais antigos afrescos de Pompeia.
O arquiteto Fabio Galeandro, que supervisiona o projeto de Pompeia, afirma que espaços como a Casa do Centauro não têm o que perder com esse novo sistema de crowdfunding: se o LoveItaly! não alcançar a soma necessária de 53 mil euros, o departamento cultural de Pompeia já garantiu que cobre a diferença."O aspecto mais interessante dessa iniciativa é que ela abre a possibilidade de recursos privados serem investidos em projetos que necessitam urgentemente de restauração e proteção, mas que não chamariam a atenção de outra forma, como neste caso: uma pequena, mas importante parte de Pompeia", diz Galeandro.
A plataforma aceita doações a partir de 2 euros, mas a fundadora do site, Tracy Roberts, afirma que tem esperança de conseguir ofertas mais generosas por meio de incentivos, algo que os italianos poderiam aprender com os americanos.
"Como em todo tipo de crowdfunding, você precisa de incentivos", explica Roberts. "Doadores de somas maiores, por exemplo, receberão convites para jantares luxuosos. Temos parcerias com hotéis. Conhecemos a Itália, seu território e seu povo e queremos que as pessoas sejam parte disso."
Fonte: Deutsche Welle (05.11.2015)
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