Através da Câmera foram publicadas em grandes jornais, outras passaram décadas guardadas antes de chegar ao público.
São, ao todo, 200 imagens feitas por seis fotógrafos da geração que começou a retratar a antiga potência comunista na década de 1950. A mostra será aberta na noite de hoje (5) no Memorial da América Latina, zona oeste da capital paulista.
“O que muitas das fotos que estão na exposição demonstram é que os próprios fotógrafos sabiam que as fotografias não iam passar pela censura. Então, eles nem enviavam essas fotos para as agências e elas permaneciam em um acervo pessoal”, explica o curador da mostra, Gustavo de Carvalho. As imagens só puderam ser divulgadas a partir da abertura promovida por Mikhail Gorbachev, na década de 1980.
Em comum, os seis nomes representados na exposição têm a negação do período stalinista pela estética construtivista.
“Eles quase que prestam uma homenagem a essa estética construtivista, que nasceu com a Revolução Russa e foi esmagada por [Josef] Stalin, por achar que ela não servia à ideologia soviética”, ressalta o curador sobre o movimento que tem como característica o trabalho com as formas geométricas. Entre os expoentes do construtivismo estão o artista plástico Alexander Rodchenko e o cineasta Sergei Eisenstein.
Foto que integra exposição no Memorial da América Latina
No entanto, Viktor Akhlomov, Yuri Krivonossov, Antanas Sutkus, Vladimir Lagrange, Leonid Lazarev e Vladimir Bogdanov apresentam olhares distintos sobre a sociedade soviética.
“Esse olhar subjetivo é uma das poucas coisas que a censura soviética não conseguiu proibir. Assim como a extensão geográfica do país faz com que, muitas vezes, um olhar sobre o mesmo tema seja completamente diferente ou antagônico”, acrescenta Gustavo de Carvalho.
O único não russo entre os fotógrafos, o lituano Antanas Sutkus, traz um contraponto ao trabalho dos colegas. “Funciona na exposição como o negativo de toda essa realidade soviética. Toda a obra dele se destaca do trabalho dos outros cinco fotógrafos porque se constitui como um testemunho de um país que tinha uma cultura própria e foi ocupado pela União Soviética”, explica Carvalho.
Como a fotografia não era entendida como uma arte que comportava o mesmo nível de subjetividade do cinema, o curador conta que foi possível que os artistas levassem para os jornais e revistas soviéticos um olhar humanista sobre o cotidiano do país “em que se vê admiração e respeito pelo ser humano”, enfatiza sobre a produção com imagens tanto da capital, Moscou, quanto do interior camponês.
Além de apreciar o trabalho dos artistas, Carvalho acredita que o público também terá a oportunidade de conhecer mais sobre a cultura do leste europeu. “Mesmo não sendo o intuito principal da exposição, é uma oportunidade interessante para o público brasileiro conhecer cenas de uma cultura que é tão longínqua. Acho que cumpre também esse papel de mostrar como essas pessoas viviam naquela época”.
Fonte: Jornal do Brasil
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