A redação do projeto de pesquisa apresenta uma narrativa marcada por três vozes fundamentais que não devem se confundir, pois marcam falas específicas, a saber:
a)
a fala das fontes (dos documentos)
b)
a fala da bibliografia (utilizada de
duas formas: em citações diretas ou em paráfrases realizadas pelo autor da
monografia)
c)
a fala do próprio autor (a sua)
Vale lembrar
que essas três falas precisam ser bem demarcadas para o leitor. É muito
freqüente que o uso excessivo de paráfrases acabe obscurecendo a análise do
autor, empobrecendo sua abordagem. É imprescindível que apareça a
voz do autor, suas considerações pessoais, suas análises, enfim, sua argumentação
diante da bibliografia e das fontes utilizadas.
Recomendo que
a voz da documentação apareça sempre da forma direta, como citações. A
paráfrase do conteúdo de documentos ou entrevistas dá margem a dúvidas e
objeções, em particular, relacionadas com a questão da fidelidade àquilo que
teria, verdadeiramente, sido expresso pela fonte.
A fala da
bibliografia deve atentar para a conveniência ou não das citações. Deve-se
evitar o excesso de citações, muitas vezes desnecessárias. Devem ser
econômicas, precisas. Também não é muito apropriado o uso de autores de linhas
teóricas distintas, a fim de se evitar ecletismo. Recomenda-se utilizar a voz
de autores vinculados a uma mesma temática, com abordagens semelhantes ou
complementares. No tocante às paráfrases, é fundamental a remissão em rodapé do
trecho ou da obra analisada. Todo crédito deve ser dado ao verdadeiro autor do
trecho citado. É preciso ainda se preocupar em não exagerar no uso da
argumentação dos autores utilizados para não se incorrer em plágio.
A fala do
autor (narrador) é sempre a mais importante. Ele é o condutor da
narrativa, que integra as demais falas ao texto. Cabe à essa voz o papel
preponderante de conduzir o leitor no texto, realizando as análises, efetivando
a autoria. O texto é polifônico, mas alguém o escreveu e este deve aparecer.
Outro aspecto
importante está relacionado ao uso dos tempos verbais. E também qual pessoa
deve ser utilizada na redação do texto. Já não se emprega mais a primeira
pessoa do plural (nós), o eu majestático: realizamos, obtivemos,
analisamos, descobrimos... Recomendo a redação na terceira pessoa do singular,
ou seja, mantendo-se uma distinção entre o autor e os personagens, temas e
demais vozes do texto. Exemplo: a fonte revela, o autor esclarece. Na maior parte do tempo, isso significará
ainda a indeterminação do sujeito na frase. Exemplo: Pensa-se, acredita-se,
etc. Alguns autores e orientadores ainda recomendam o uso da primeira pessoa do
singular (acredito, concluo, percebo, etc), portanto
existe a possibilidade de escolha entre uma ou outra posição.
Quando se
apresenta a voz da bibliografia, deve-se utilizar sempre o verbo no presente,
mesmo se o autor do texto já tenha morrido. Assim, Machado de Assis, em Memórias
Póstumas de Brás Cubas revela na página tal... Do mesmo modo será
com a fala da documentação: a Carta de Caminha diz, na folha 3...
Isso ocorre porque você manuseia a fonte e o documento no presente, mesmo que
ele seja uma entrevista ou depoimento oral, ou seja, embora a fonte oral tenha
sido capturada no passado, o uso dela ocorre no presente.
Por fim, a voz
do autor do projeto, conduzida na terceira pessoa do singular, poderá
utilizar-se de verbos no pretérito e do presente, evitando-se o futuro (a menos
que esteja escrevendo história contra-factual). Lembro, novamente, que alguns
optam pelo uso da primeira pessoa do singular. Os verbos no passado serão
utilizados sempre que se referirem a fatos ou aspectos ocorridos anteriormente
ao ano em que redige o texto. Assim, p. ex.: O presidente Lula, durante o Ato
da Posse, deixou seus óculos caírem. Quanto às análises, explicações ou
interpretações, elas permitem o uso do pretérito, mas o mais adequado é o uso
do presente, visto ser o momento em que o texto é redigido. Quando a abordagem
se refere a uma análise de fatos ocorridos no passado o correto e manter o
tempo verbal no pretérito. Assim: o deputado João Alves na CPI das Loterias revelou
ter sido muito ajudado por Deus, e, desse modo, mascarou (e não mascara)
seu esquema de lavagem de dinheiro.
Observação
final. O uso do gerúndio não somente deve ser evitado, mas combatido.
Construções do tipo: vou estar analisando, continuam permitindo, estavam
modificando, obrigatoriamente precisam ser substituídas por analisarei,
permitem, modificavam, respectivamente.
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